Chaminé Cachoeiro – Pico do Itabira

Por rafael

Via Chaminé Cachoeiro - 5° VIsup E3 320m

Cachoeiro de Itapemirim - ES Dia 5 de Setembro de 2010 Escalada comemorativa no ano do cinquentenário da via

[caption id="attachment_291" align="aligncenter" width="225" caption="A via Chaminé Cachoeiro segue a grande chaminé que corta a montanha (Foto: Marie)"] [/caption]

Equipe

Cordada: Adrian Giassone - Jean Pierre von der Weid Cordada: Gustavo Soares - Rafael Rossi Equipe de apoio: Marie-Laure Poullin, Kate Benedict, Karina Mota Participação especial: Patrik David White - Panela (conquistador da via)

[caption id="attachment_290" align="aligncenter" width="300" caption="Kate, Karina e Marie. Ao fundo, o Pico do Itabira (Foto: Rafael)"] [/caption]

Relato

Fizemos a aproximação no Sábado, dia 4 de Setembro de 2010, para reconhecer a base e deixar lá todo o material de escalada e água. Assim no dia da escalada subimos leves. A aproximação é rápida e tranquila.

Da cidade de Cachoeiro, é só seguir o Itabira, que aperece sempre no horizonte. Saindo da cidade, no asfalto, continua seguindo a imponente pedra até ver uma placa indicando Pedra do Itabira. Mais alguns minutos de estrada de terra, o carro fica perto de uma estradinha que sobe um bananal, à menos de 40min da base da via. A trilha também é tranquila, subindo pela estradinha que passa pelo bananal e, quando se avista a pedra já bem perto, subindo um gramado íngreme até alcançar um colo que chega na na aresta Oeste da pedra. Daí é só seguir costeando a pedra pela face Norte que a base da via é bem óbvia no final da subida. A base é confortável, em um colo que liga o Itabira a um morro ao seu lado.

[caption id="attachment_292" align="aligncenter" width="225" caption="Rafael ao final da 1a enfiada (Foto:Marie)"] [/caption]

Começamos a escalada cedo, pouco depois das 7h da manhã. Nossa cordada foi na frente, Gustavo e eu, seguidos pelo Adrian e Jean Pierre. Entrei guiando uma canaleta que começa fácil e pouco inclinada e aos poucos vai ganhando inclinação e dificuldade, até que fica vertical com duas fendas paralelas que foram vencidas com entalamento de braço e ombro em uma fenda e usando a outra fenda com a outra mão e pés. Boas proteções móveis podem ser usadas nesse trecho graduado como V grau. Acho que usei friends médios e um nut grande. Da via original ainda podem ser vistos um piton e 2 cunhas de madeira. Vencido esse trecho, chega-se a uma parada e logo acima o grampo do primeiro pêndulo. Subi, costurei o pêndulo e desci para a parada, chamando o Gustavo.

[caption id="attachment_296" align="aligncenter" width="225" caption="Adrian trabalhando o crux da 1a enfiada (Foto: Marie) "] [/caption]

O Gustavo chegou e logo na sequência o Adrian já chegava na parada. O Gustavo saiu para fazer o primeiro pêndulo, que na verdade é mais uma escalada horizontal em um lance exposto. Chegando no grampo ao final do pêndulo, há um sequência de V+ para entrar na segunda chaminé. O Gustavo protegeu esse lance com um friend grande. Entrando na chaminé, há outra parada. Para fazer o pêndulo, o participante deve passar a corda pela base do grampo e ou rapelar ou descer de baldinho. Aproveitamos a segunda cordada logo na sequencia e para ganhar tempo deixei a corda costurada e fui de baldinho, o Adrian retirou a costura e o Jean limpou o grampo e veio com sua corda passada direto no grampo do pêndulo.

[caption id="attachment_297" align="aligncenter" width="300" caption="Adrian mandando o 1° pêndulo, Jean Pierre na seg em P1. (Foto: Marie)"] [/caption]

Da segunda parada, eu parti para o segundo pêndulo. Sobe-se uns 5m em chaminé, com boas proteções móveis, e domina-se um pequeno platô, onde há um grampo novo do qual se pendula. O segundo pêndulo é bem mais fácil que o primeiro, pois o grampo no final do pêndulo está bem mais baixo e fica fácil pendular. Ao terminar o pêndulo, parei e chamei o Gustavo.

[caption id="attachment_286" align="aligncenter" width="225" caption="Gus no 1° pêndulo, Adrian e Rafa em P1 e Jean terminando a 1a enfiada (Foto: Marie)"] [/caption]

O final do segundo pêndulo fica a uns 50m do chão, mas mesmo não sendo tão alto, é P3 e demora-se um pouco devido às idas e vindas para fazer os pêndulos. Nesse ponto, começa a terceira e mais longa chaminé da parede, que vai até o cume.

[caption id="attachment_287" align="aligncenter" width="225" caption="Gus na 2a enfiada. Mais acima pode-se ver o grampo do 2° pêndulo. (Foto: Rafael)"] [/caption]

O Gustavo saiu guiando a quarta enfiada. Mandou muito bem o crux das chaminés da via, com lances de VI, bem apertados que tiveram que ser vencidos sem o capacete, além de ter um arbusto que fecha a chaminé em um trecho, o que atrapalha e desgasta bastante. Logo depois da parada, ele conseguiu proteger com um friend pequeno, .75 acho. Antes do lance de VI, há um grampo e logo no lance, o Gustavo protegeu com um big bro. Depois de entrar no lance, não tem mais proteções até passar do maldito arbusto. Alguns metros acima a chaminé fica mais larga e há uma pedra confortável para fazer uma parada, P4.
Chegando em P4, logo saí para a quinta enfiada, vencendo uma grande pedra entalada na chaminé, onde cabe um friend 2. Dominando essa pedra entalada, a visão acima foi muito ruim: a chaminé estava completamente fechada por muitos galhos entrelaçados de outro arbusto. Os galhos eram tantos e estavam tão entrelaçados que o sol mal conseguia passar entre eles. No meu julgamento, era impossível passar ali sem um facão ou serrote. Disse isso aos outros e decidi descer.

[caption id="attachment_289" align="aligncenter" width="225" caption="Jean Pierre entrando no 2° pêndulo, Gustavo entrando na chaminé de VI, Adrian e Rafael em P3. (Foto: Marie)"] [/caption]

Para ter uma segunda opinião da situação, o Gustavo tomou a ponta da corda e subiu. Olhou um pouco, tentou algumas estratégias para fugir do arbusto, mas sem sucesso. Ele resolveu encarar os galhos, e bravamente venceu o pequeno trecho se emaranhando e quase nadando no meio de galhos, folha, e muita, mas muita terra.

[caption id="attachment_288" align="aligncenter" width="225" caption="Gustavo bravamente lutando contra o mato mais fechado que passamos na via (Foto: Rafael)"] [/caption]

Não contamos ao certo no relógio, mas acho que levou mais de meia hora para vencer um trecho de uns 5m de via. E toda a terra e galhos que ele vinha a tirar da chaminé para conseguir passar, vinha a cair exatamente na nossa cabeça parados mais abaixo, principalmente na cabeça do Adrian que deve ter levado baldes e baldes de terra na cabeça, fora os galhos secos que estalavam no capacete dele. Mal acreditei quando ele conseguiu passar e parou em um grampo logo acima do arbusto, nosso P5. Para tentar ganhar tempo, subimos esse trecho com a ajuda de uma corda fixa.

[caption id="attachment_301" align="aligncenter" width="225" caption="Adrian sob uma chuva de terra, folhas, galhos, etc... (Foto: Rafael)"][/caption]

De P5, a visão da continuação chaminé era desaminadora: arbustos o caminho todo. Arbustos menos densos que esse último, porém em um trecho longo. Lá fui eu guiar essa chaminé. Ela começou limpa, nos primeiros 5m. Tem uma boa proteção móvel uns 3m acima da parada, acho que um friend 0.5 ou parecido. Depois desse trecho inicial limpo, os galhos e arbustos não dão folga nos próximos 30m de chaminé. É uma chaminé de IV grau, com poucos trechos lisos, mas a energia gasta para vencer os galhos se emaranhando e puxando para baixo é com certeza maior que a energia gasta para efetivamente subir e vencer o lance de escalada. Isso sem falar na terra que por algumas vezes caía de baldes na cabeça. Essa chaminé tem algumas boa proteções móveis, friends grandes e médios, acho que usei até o 5. Vencidos os 30m de arbustos, há um final mais estreito e limpo e sem arbustos.

[caption id="attachment_293" align="aligncenter" width="225" caption="Rafael no início da 5° enfiada. (Foto: Marie)"] [/caption]

Depois disso, chega-se a um bom platô com uma parada dupla, nosso P6. Cheguei nesse platô completamente esgotado, mal tinha força para montar a parada e fazer seg. Chamei o Gustavo, e logo na sequência o Adrian veio guiando. Mesmo participando a chaminé longa e emaranhada de arbustos foi demorada e cansativo, todos chegaram ao platô exaustos e quebrados, e com a água quase acabando.

[caption id="attachment_285" align="aligncenter" width="225" caption="Vista de cima da chaminé cheia de mato. Pode-se ver o Gustavo emaranhado no meio do mato. (Foto: Rafael)"] [/caption]

Logo acima de nós, a sequência era outra longa chaminé, pelo croqui também IV grau. A impressão que dava era a que tinha ainda mais mato, mais galhos e mais terra acima, pelo caminho todo. Estavamos ainda na metade da via e já não era tão cedo. Ninguém mais tinha energia sobrando pra enfrentar aquele mato que parecia seguir até o final da via. Decidimos descer.

[caption id="attachment_284" align="aligncenter" width="300" caption="Muito mato fechando a via. (Foto: Rafael)"] [/caption]

Emendamos as cordas e em 2 rapeis estavamos na base do segundo pêndulo. Adrian e Jean desciam na frente com corda simples, Gustavo e eu soltavamos a corda simples deles e desciamos logo depois com corda dupla emendada. No nosso último rapel o tempo virou e começou uma ventania patagônica, o que fez a corda dupla emaranhar completamente no meio do rapel do Gustavo, enquanto eu esperava minha vez para rapelar. Por sorte ele achou um grampo no meio do rapel e mesmo assim levou mais de meia hora para conseguir se desvencilhar dos nós que o vento deu na corda.

[caption id="attachment_300" align="aligncenter" width="225" caption="Jean abrindo o rappel, Adrian, Gustavo e Rafael na parada. (Foto: Marie)"][/caption]

Arrumamos as coisas e pegamos a trilha. Nossa querida equipe de apoio, que nos acompanhou de longe durante toda a aventura tirando, estava lá nos esperando junto do Panela, conquistador da via. E lá chegamos, cansados, quebrados, sujos, roupas rasgadas, vencidos pelo mato, escalada incompleta, porém felizes pela aventura e sim, a comemoração foi mais do que válida!

[caption id="attachment_302" align="aligncenter" width="300" caption="Gustavo e as marcas da luta contra o mato (Foto: Karina)"][/caption]

Voltamos para o nosso hotel e depois de um bom banho, fomos todos comer pizza, tomar cerveja e ouvir o bem-humorado Panela contando suas histórias da época da velha guarda do CEC.  Esse sim foi o verdadeiro cume da excursão!
Adrian, Jean, Gustavo e Rafael, na base da via

Ouvir essas histórias sobre as conquistas da velha guarda sempre faz pensar sobre o quanto a escalada evoluiu, e mesmo com essa evolução, a determinação do escalar é o fator mais importante de todos. Hoje escalamos com cordas leves, material móvel e garrafas pet, na época eles levavam cunhas de madeira, marreta, cordas grossas e pesadas e câmera de pneu para levar água! Uma conquista ousada, como muitas outras do pessoal dessa época, que mesmo com a evolução dos equipamentos ainda hoje desafia escaladores ... e continua dando trabalho imenso para quem quer que as tente repetir!

[caption id="attachment_303" align="aligncenter" width="199" caption="Jean Pierre (Foto: Karina)"][/caption]

Parabéns aos conquistadores, parabéns e obrigado especial ao Panela que organizou esta comemoração, se emocionou e emocionou a todos com suas palavras! Obrigado aos companheiros de escalada pela ótima aventura! Ao Adrian que sacudiu a todos para que esta escalada acontecesse, ao Gustavo pelo bravura de ter passado por aquele trecho de mato quase intrasponível e nos deu mais algumas enfiadas de via, e especialmente ao Jean Pierre, que já esteve no Itabira umas 3 ou 4 vezes e topou nos acompanhar com sua vasta experiência. E obrigado com carinho às meninas, Marie, Kate e Karina, pela companhia e por todo o opoio que nos deram nessa empreitada :)

[caption id="attachment_304" align="aligncenter" width="300" caption="Jean Pierre e Panela, conquistador da via (Foto: Karina)"][/caption]

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