Paredão Oswaldo Pereira, Itacoariara, Niterói

Por daniel.dandrada

Por Daniel d'Andrada

Há muito tempo queria ir nessa via mas nunca a considerei seriamente devido ao tamanho e dificuldade. Mas depois de escalar algumas vias longas, essa questão do tamanho perdeu o mistério pra mim: Em graus mais baixos dá pra escalar vários esticões rápido e sem se cansar. O outro ponto era a dificuldade: V só guio se for bem protegido e não for um trecho muito longo (ex: um crux). Não guio VI grau (e provavelmente nunca vou guiar). VIsup então mal consigo participar. Mas resolvi que iria assim mesmo contando que roubaria nos trechos mais difíceis ou, no pior caso, rapelaria.

Fui com o Antonio Santanna, que também queria ir nessa via há muito tempo mas não foi devido aos mesmos motivos. Só que pra piorar ele ainda estava sem escalar há um mês. Iríamos revezar a guiada.

Formamos também uma segunda cordada: Gabriel Konzen com um amigo dele de São Paulo, José Otavio.

Na sexta, depois de telefonar para o Parque Estadual da Serra da Tiririca, mandei o "Termo de conhecimento de Riscos e Normas" deles, preenchido e assinado, por e-email. Tudo isso porque iríamos entrar 06:30 da manhã e o parque só abre as 08:00.

No Sábado (12 de Julho 2015) entramos no parque as 06:30 como foi planejado. Deixei o termo na portaria do parque (na realidade larguei lá, já que não tinha ninguém) e seguimos a trilha até o bloco "A Isca". Lá tentamos seguir as orientações do Guia de Escaladas de Itacoatiara do Flávio Daflon à risca. Nele é orientado que a partir desse bloco você segue à direita sem subir (o "sem subir" sendo bem enfatisado) procurando por indícios de uma trilha. Varamos um pouco de mato, voltamos, tentamos outros caminhos achando que talvez aquele bloco não fosse o tal do "A Isca" e, enfim, perdemos muito tempo nisso. Até que desistimos de seguir fielmente as orientações do guia e fizemos o seguinte: uma trilha bem pisada margeia o bloco "A Isca" e o contorna pela direita, onde começa a subir. Subimos um pouco por essa trilha até um ponto onde a mata a direita fica manos densa, mais atravessável, e de fato lembra uma tênue trilha. Fomos por ela, tentando sempre manter a mesma curva de nível. As vezes tínhamos que contornar um trecho mais intransponível por cima, ma no geral subíamos pouco. Até que finalmente encontramos um totem e a partir daí fomos como o guia explica, seguindo de totem em totem uma trilha que por ora vai a direita, na mesma curva de nível e por ora sobe, no geral traçando uma diagonal (subindo e indo para a direita) até que finalmente você encontra a parede e desce um pouco, margeando ela, até encontrar a base da via.

Comecei guiando e estranhei os primeiros lances. A pedra é toda coberta por um limo cinza. Você tem que procurar os pontos limpos (que são os mais pisados) nesse mar de limo. Além disso esses primeiros lances são estranhos mesmo. Felizmente essa retinha é muito bem protegida. Mas me fez pensar "@#%$, se já estou estranhando esse III grau, imagina lá em cima, no IV, V, VI... Onde fui me meter...". Mas depois dessa primeira retinha passei a sentir o III grau como III grau, fui me acostumando com o limo e a escalada passou a fluir bem. O limo também torna bem difícil a visualisação dos grampos, já que muitos tem exatamente o mesmo tom do limo, se camuflando muito bem. O croqui ajuda bastante na localização deles.

E assim fomos, revezando a guiada, sem problemas. Vale resaltar que nesses esticões de III aparece uma ou outra chapeleta bem podre, onde não confiaria nem me pendurar, o que cria lances E2 bem longos ou mesmo E3.

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Antonio Santanna em alguma parada da via.

Indiscutivelmente, o sétimo esticão é o mais bonito da via: movimentos e formações rochosas bem diferentes com lances mais técnicos e bem protegidos.

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Gabriel Konzen terminando o sétimo esticão.

O nosso maior medo era o oitavo esticão, com lances de VI e VIsup. Para a nossa surpresa passei por ele bem rápido, com um mistura de escalada artificial e lances em livre.

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Oitavo esticão, visto do platô da P8

Na P8, uma surpresa: Um enorme platô de mato (com uma pequena árvore e tudo) caiu no início do nono esticão, cobrindo o primeiro grampo do mesmo e mudando bastante o aspecto desse trecho da via. Foi curioso o contraste entre o trecho extremamente sujo de limo por onde passa a via e a rocha absolutamente clara e limpa imediatamente a sua direita, onde ficava o tal platô.

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Platô de mato que desabou ao lado da P8

A partir da P9 é só correr pro abraço até fazer cume (parando também na P10).

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No cume do Alto Mourão, da esquerda pra direita: Gabriel, eu, Antonio e José Otavio

A trilha de volta até a estrada é um pouco longa mas bem tranquila e até mesmo agradável. O que foi bem chato foi andar tudo de volta, pela estrada, até a entrada do parque onde deixamos o carro.

Via longa, bonita, bem protegida, na sombra e com uma vista fantástica. Imperdível!

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