Pequenos escaladores

Por rafael

Pequenos escaladores

Jardins de infância hoje em dia devem ser o mais seguro possível, mas o
jardim de infância de Sola, Noruega, vai contra a corrente. Lá as crianças aprendem a
reconhecer seus próprios limites, inclusive escalando em rocha.

Texto original: Terese Torgersen/Cloud Story | Título Original: Små Fjellklatrere | Fonte: Revista Glade barn i barnehagen, nr. 01/2017 | Tradução: Rafael Rossi. Nota: não foi dada permissão para reproduzir em rede as fotos do artigo original da revista impressa.


No fundo do pátio do jardim de infância de Sola, uma área próxima a uma falésia foi bloqueada para acesso. Por perto, um menino e seis meninas esperam ansiosamente o que está por acontecer. Entre elas, as amigas Ruth Stokka Sanne e Mathea Sanne, ambas com 5 anos de idade. Elas estão colocando o baudrier de escalada com a ajuda da instrutora e líder educacional Grete Hellestrø, e uma assitente, Gro Elin True.

É uma manhã de segunda-feira e hora da atividade semanal de alpinismo. Depois de colocar os baudriers e os capacetes, Grete e Gro verificam um segunda vez o equipamento de cada criança. Ruth escolha a via mais fácil e com a seg de Grete em top rope ela alcança com facilidade o final da via e desce de baldinho.

 - Foi muito divertido. Já subi essa via várias vezes e é sempre muito legal, diz ela com um sorrisão.

Mathea escolheu uma via um pouco mais difícil e com ajuda de Gro procura uma agarra para o pé no crux da via.

 - Muito bem, Mathea! Coloca o pé um pouco mais pra direita e tem uma agarra boa de pé, diz Gro.

Na metade da via, Mathea parece contente e satisfeita com a atividade e resolve descer.

 - É sempre super divertido procurar as agarras certas na pedra. Eu já consegui chegar lá em cima uma vez, mas foi em uma outra via mais fácil. Hoje eu queria tentar algo mais difícil e consegui chegar bem mais alto que a última vez, diz ela antes de correr para escalar uma árvore por perto.

Sentada em um galho da árvore, ela observa as outras crianças que tentam chegar no alto das vias.


Vias fáceis
Para escalar com crianças pequenas, é importante escolher vias fáceis, sem movimentos longos. É importante também que o adulto supervisionando tenha seguro do que está fazendo e saiba levar em conta as limitações das crianças. A segurança precisa ser levada muito a sério.


Uma idéia se torna realidade

Na primavera de 2016 o jardim de infância de Sola começou com escalada em rocha como atividade regular para crianças pequenas e grandes. A rocha que fica no pátio da escola foi equipada com 4 vias diferentes e a mais difícil tem 5 metros de altura. Uma vez por semana 12 crianças escalam, enquanto o resto da turma vai caminhar no bosque.

Os funcionários da escolinha tiveram esta idéia de alguns pais que usam o local para escalar com os escoteiros nos finais de tarde.

 - Eles perguntaram porque não começar a levar as crianças para escalar durante o dia, e nós achamos um ótima idéia. Os pequenos sempre gostaram de escalar e brincavam subindo rochas menores desde antes de iniciarmos essa atividade. A diferença é que agora eles podem subir a pedra mais alta até o final, diz a instrutora líder Maj Brit Rygh.

Grete e Gro foram voluntárias para fazer um curso básico de escalada, mesmo tento medo de altura, e com isso, tudo estava pronto para começar. Logo mais dois funcionários vão fazer o mesmo curso. Até agora tem sido um grande sucesso, e Gro acha muito interessante e legal ver as crianças aprender e melhorar suas técnicas de escalada.

 - Nós começamos devagar, e com o tempo ganhamos a confiança das crianças. No começo ouvimos com frequência “Eu vou cair!”. Nós tínhamos que reforçar a idéia que eles estavam equipados, com corda, e nós estávamos na seg deles. Hoje eles confiam muito mais. O objetivo agora é fazer com que se sintam seguros durante a descida de baldinho. Muitos têm medo e não se sentem seguros durante a descida, diz Gro.

É fácil de ver que as crianças adoram a nova atividade. Um depois do outro, escalam, descem e voltam com um grande sorriso e perguntam se podem ir de novo.

 - Eles ficam super felizes depois de escalar. “Subi tudo, até lá em cima. Vou falar pro papai que hoje consegui!”. É uma boa experiência para eles, diz Gro.

O maior desafio até agora tem sido o tempo.

 - Já aconteceu que na hora planejada começou a chover forte e tivemos que cancelar a atividade. Também toma tempo e recursos de pessoal para planejar e executar a atividade, diz a instrutora líder.


Equipamento apropriado
Marianne Norland faz parte da diretoria da Associação Norueguesa de Escalada (Norges Klatreforbund) e é líder do grupo que trabalha especificamente com jovens e crianças. Equipamento correto como baudrier de corpo inteiro e capacete para criança é muito importante, segundo Norland. - O baudrier de corpo tem um ponto de conexão mais alto comparado ao baudrier comum. Isso evita que o corpo vire de cabeça pra baixo em caso de queda. Ele é recomendado a crianças de até 40 kg.


Deixar as crianças serem crianças

Muitas creches têm o pátio e os arredores planos, diz Maj Brit. Ela menciona que muito se preocupam demais com segurança em excesso.

 - Nós vamos contra a corrente. Para nós é importante que crianças aprendam a reconhecer os próprios limites.

Até agora, não tivemos nenhum acidente na atividade de escalada, mas no brinquedo do parquinho, onde as crianças sobem e descem sozinhas, já aconteceu de uma criança cair e quebrar a perna. Ironia. A ajuda que a creche recebeu do clube de escalada local, BRV (Bratte Rogalands Venner), foi importante para ter uma atividade de escalada segura. Através do clube, eles fizeram contato com Salvesen Fjellsport (Salvesen Montanhismo). Eles ajudaram a creche com tudo que diz respeito à segurança e à equipagem das vias, e à remoção de blocos soltos na parede.

 - Eles nos ajudaram a desenvolver bons procedimentos para colocar a corda e equipar as crianças e os funcionários. Nós também temos documentos guias onde constam os procedimentos necessários antes, durante e após a atividade. Depois de cada atividade nós escrevemos um relatório curto sobre que aconteceu e o que pode ser melhorado, diz a líder.

A creche está satisfeita por ter recebido a sugestão dos pais há um ano. Implementar a atividade custou um certo tempo e dinheiro, mas como resultado ver as crianças contentes faz sentir que valeu a pena.

 - Nós gastamos muito tempo com atividades motoras. Nossa prioridade são crianças saudáveis, e a escalada se enquadra bem nessa idéia. Ao escalar, elas usam o corpo todo e acho que isso gera um benefício para o resto da vida, diz Maj Brit.

Grete, que é responsável pela escalada, conta que as crianças também aprendem a respeitar a rocha e a altura, e tem melhor consciência de quão alto eles podem ir quando estão brincando sem equipamento.

A escalada desenvolve a coordenação motora, o equilíbrio e a força deles.

Eles também aprendem a trabalhar em equipe e competir consigo mesmo. É uma boa experiência tentar subir cada vez mais alto ou fazer uma via mais difícil.

A instrutora líder porém salienta que eles se preocupam em não desenvolver uma atitude de competição entre eles, de quem escala mais alto, ou mais rápido.

 - É muito mais importante se divertir e valorizar o seu aprendizado e de seus amigos, do que quem foi o melhor hoje. Nós damos valor para que eles ajudem uns aos outros, e trabalhem para que todos melhorem e tentem ter uma bons momentos juntos.


Grande sucesso

A cada semana metade da turma tem contato com a pedra no dia da atividade. A maioria escolhe as vias mais fáceis. Do outro lado da área bloqueada para a atividade, estão Eliane Aasum Burton, de 5 anos, e Emilie Mong Svendsen, de 4 anos, e esperam empolgadas pela vez delas de se equipar e escalar. Eliane escalou várias vezes antes com os seus pais que também são escaladores.

 - Eu já escalei várias vezes nas montanhas e acho fácil subir até em cima, diz ela.

Emilie também escala em casa, mas somente as macieiras do quintal.

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