RESPONSÁVEL
DATA DA ATIVIDADE

24/12/2024

RELATO POR

Carlos Eduardo Spencer de Vasconcellos

PUBLICADO EM

21 de janeiro de 2025

CATEGORIA

No dia 24 de dezembro à noite, eu e Jéssica Sol desembarcamos no aeroporto de Salvador. De lá, seguimos para um Airbnb onde jantamos uma ótima ceia preparada pelos nossos companheiros de viagem, Laura Rios e Mário Togni. Celebramos juntos o nosso natal e o meu aniversário. Na manhã seguinte zarpamos para Itatim em um carro alugado.

Final da Via Expressa, Arco da Toca.

Morro da Toca visto do Abrigo de Montanha de Itatim

São aprox. três horas de viagem até o Abrigo de Montanha de Itatim (Marcelo Arruda) localizado aos pés do Morro da Toca. Além de ótima localização, o abrigo possui suítes com ventilador, banho quente e uma boa cozinha coletiva. Deixamos as malas no abrigo e, eufóricos, já fomos para a parede!  Entramos nas vias EXPRESSA (3ºVIsup) e EXPRESSISSIMA (3ºVIsup). Duas boas opções para “vias de entrada” pois ambas já apresentam, ainda que em grau baixo, certa verticalidade e a textura de rocha característica da região. A descida do cume do Morro da Toca, realizada pela face sul, é bem sinalizada e muito tranquila. À noite, fomos para a cidade, e surpreendentemente, encontramos a praça lotada. Praticamente todos os habitantes de Itatim estavam celebrando o natal na praça, em um evento curiosamente chamado de “Itatimlândia”.

Laura Rios no 3º esticão da via Arco da Toca.

Adrian no 4ºesticão da via Arco da Toca.

Cadu Spencer no 2º esticão da via Arco da Toca.

No dia seguinte, entramos na clássica ARCO DA TOCA (5ºVIIa) bem cedo para evitarmos o calor, visto que a via está na face leste do Morro da Toca. Os dois primeiros esticões (curtos) são fáceis, com proteção móvel (.5 ao 2). Uma colocação no meio do 1º esticão na saída de um platô e duas outras boas colocações no 2º esticão, uma na beirada do primeiro buraco (opcional) e outra em uma fenda frontal mais à direita do buraco. Via bem protegida. Cuidado para não “seguir reto” depois do crux. A vontade é grande rs, porém a via segue para direita em belos lances horizontais sobre o grande vazio formado pela boca da montanha. No mesmo dia à tarde, Laura e Mário se juntaram a nós e fomos fazer a via SHAOLIN DO SERTÃO (5ºVsup) no Morro da Ponta Aguda. Linha imperdível que segue incríveis e diferentes texturas de rocha, lances verticais com boas agarras. Achamos que o crux está na saída da P2. O terceiro esticão é o melhor da via. O Rapel é óbvio e deve ser feito ainda de dia, pois existe o risco de a corda prender em alguma das infinitas protuberâncias da montanha. Jantamos na Célia do Acarajé onde encontramos Adrian e Mariana que haviam chegado há pouco, vindo de carro do Rio.

Jéssica e Cadu na P1 da via Janela do Tempo

Jéssica na via Janela do Tempo.

No dia 27/12 descansamos pela manhã e fomos todos conhecer o Morro do Crocodilo à tarde. Laura e Mário foram para as esportivas do Rupestre e o restante do grupo seguiu para a via JARDIM CELESTIAL (6ºVIsup). Chegamos na base e não ficamos animados, pois a via nos pareceu difícil e com fendas duvidosas para colocação de proteção móvel. Seguimos para a via JANELA DO TEMPO (4ºV). Crux bem técnico no início da linha e uma surpreendente chaminé limpa e bastante didática com proteção mista. Saindo da chaminé, eu e Jéssica fizemos uma horizontal à direita até uma parada dupla e rapelamos por uma via ao lado.

Jéssica na via Constelação de Saturno.

No dia seguinte, às 6:30, Jéssica e eu entramos na CONSTELAÇÃO DE SATURNO (5ºVIIa), Adrian e Mari entraram na via Crepúsculo, ambas localizadas na face oeste do Morro da Toca. A “Constelação” possui vários lances em agarras de dificuldade moderada em trechos verticais, todos bem protegidos. Adoramos essa via! Rapel rápido pela via “Mudança de Planos” localizada na face sul. Ainda com “sede de pedra”, à noitinha, fizemos a CALUMBI (5sup) e CASCAVEL (7a), ambas vias esportivas na face norte do Morro da Toca. Uma boa pedida para um fim de tarde mais tranquilo. Na manhã do dia seguinte voltei na via ARCO DA TOCA com Adrian, seguidos por Laura e Mário. Passamos o restante do dia no abrigo.

Cadu no 7º esticão da via O Jardineiro.

Jéssica no 8º esticão da via O Jardineiro.

Cume!

Chegou a hora de conhecermos outra “clássica de Itatim”, a via O JARDINEIRO (6ºVIIa), localizada na face norte do Enxadão, imponente montanha na região. No dia 30/12, eu e Jéssica acordamos pilhados! Às 9:30 já estávamos na base da montanha. Optamos por iniciar a via às 10:30 ainda com o sol na parede. Assim poderíamos curtir a via com mais calma. Ao meio dia a sombra “entrou” junto com uma leve brisa. Perfeito!  Levamos camalots .75, 1 e 2 que foram bem aproveitados. A via é de fácil orientação pois segue uma linha vertical. Possui belos lances verticais sempre em agarras com proteção justa e pouquíssimos lances mais expostos. Destaque para o quinto, sexto e sétimo esticões. O último esticão possui uma curta chaminé, optamos por dividi-lo em dois. A via O JARDINEIRO são várias vias em uma só, a rocha muda a sua textura inúmeras vezes. Incrível. Ao chegarmos no cume, fomos presenteados com um belo jardim suspenso, repleto de bromélias camarão. O Rapel é óbvio e deve ser feito, se possível, ainda de dia, pois existe o risco de a corda prender em alguma das infinitas protuberâncias da montanha.

Jéssica no 1º esticão da via Crepúsculo.

No dia seguinte, para fechar 2024, Jéssica e eu fomos conhecer via CREPÚSCULO (5ºVIsup) no Morro da Toca. Linda linha também com lances verticais que segue paralela à via “Constelação de Saturno”, sendo um pouco mais fácil. Desta vez, rapelamos pela própria via ao invés de descermos pela face sul da montanha como havíamos feito ao escalar a “Constelação de Saturno”. Foi uma boa escolha, mais rápido.

Todos passamos a virada do ano em “Itatimlândia” e no dia seguinte zarpamos para a cidade de Lençóis onde ficamos na Pousada Velho Garimpo, a qual recomendamos. Após passarmos uma bela tarde no rio Lençóis, nos preparamos para o nosso próximo objetivo: a via PAULICÉIA BAIANA (5ºVI) localizada no Pai Inácio. Estudamos o traçado da via a partir de croquis e de alguns relatos. Jéssica, Adrian e eu optamos por iniciar nossa escalada às 6:30 para fugirmos do calor baiano, visto que a via fica na face sul da montanha, bastante ensolarada nesta época do ano. Ao chegarmos na base, para a nossa imensa felicidade, fomos surpreendidos por um clima quase patagônico. Tivemos muita sorte.

Cadu no 3º esticão da Paulicéia.

Adrian no 5º esticão da Paulicéia.

Jéssica no 5º esticão da Paulicéia.

A linha segue um traçado natural fugindo de tetos e de trechos de rocha quebradiça. As paradas são feitas em platôs e as colocações das proteções móveis são relativamente boas. Atenção com blocos soltos ao instalar as proteções e durante a escalada. Levamos um jogo de stoppers e um jogo de camalots do .5 ao 3 com algumas peças repetidas. Tudo bem aproveitado. O primeiro, terceiro e o quinto esticão são o “filé” da via com belos lances aéreos e de domínio. O quinto esticão possui um lance em fenda de meio-corpo que penamos para passar. Este lance pode ser bem protegido com camalots 1, 2 e/ou 3. Durante a escalada, conhecemos um casal de escaladores da Serra do Baú, o Francisco e Eliane, muito simpáticos. O cume do Pai Inácio dispensa comentários. Voltamos para Lençóis e, no dia seguinte, partimos para a cidade de Igatu, onde escalamos vias esportivas no setor “Labirinto” e dois dias depois retornamos de cabeça feita para Salvador.

Parabéns aos conquistadores e conquistadoras destas lindas vias, obrigado Marcelo Arruda pela hospedagem e Cauí Vieira pelo excelente guia de Itatim.

 

Recomendações:

– Itatim é um lugar comprovadamente quente, não se engane. Você está no semiárido baiano. Deve-se priorizar faces na sombra e, sempre que possível, escalar bem cedo e/ou após as duas horas da tarde.

– É importante ter um automóvel à disposição para tirar o maior proveito das escaladas na região. As montanhas não são tão próximas.

– Estudar o guia de escalada de Itatim é imprescindível. Usamos o guia do Cauí Vieira e gostamos muito.

– Para refeições: “Célia do Acarajé” é um pequeno restaurante com boa cerveja, acarajés e quitutes. Ela também serve jantar, porém deve-se encomendar com antecedência. Abre após às 16hs. Já o restaurante “D. Hilda” é um self-service que funciona bem para um almoço.

– Os maiores mercados ficam na Rua Teotônio Vilela.

 

Cadu Spencer

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