RESPONSÁVEL
DATA DA ATIVIDADE

19/04/2025

RELATO POR

Rafaela Nascimento Lopes

PUBLICADO EM

7 de maio de 2025

CATEGORIA

Relato de nossa experiência em abril de 2025
(Carolina Soares, Cristiane Damico e Rafaela Lopes)

Decidimos incluir a escalada no Lenheiro em nossa viagem e, no último dia do prazo, uma semana antes, enviamos o formulário de autorização e responsabilidade do CEMONTA. Planejamos sair do Rio na quinta-feira às 6h para aproveitar mais o dia e evitar o trânsito. Como Cris e Rafa tinham disponibilidade e Carol precisava chegar a tempo para trabalhar, essa escolha se mostrou super acertada!
Depois, começamos a monitorar a previsão do tempo para o feriado de Páscoa, que não estava favorável. Havia previsão de chuva, com uma única janela sem precipitação na sexta-feira. Esse passou a ser nosso dia escolhido para escalar. Começamos a estudar o Guia da Serra do Lenheiro (72 páginas, vários setores, mil vias! – como disse Cris), que, por sinal, é gratuito, bem detalhado e acabou de sair a edição 2025. Também pedimos dicas aos amigos do CEC sobre as melhores vias – e viáveis (rs).

Guia da Serra do Lenheiro

Com uma lista de vias que queríamos fazer, mas que estavam acima do nosso grau de guiada e ainda eram com proteções móveis, acertamos as guiadas com o escalador Pedro Naves, referência na região, super gente boa, e um dos autores do guia. Ele também é dono do Abrigo Lagos, um local acolhedor na área, que fomos conhecer.
Na sexta-feira, saímos cedo do centro de São João del Rei e chegamos por volta das 7h30 na entrada do CEMONTA. Do centro de SJDR até Lenheiro, são aproximadamente 15 minutos de carro. Ao chegar no parque, não encontramos ninguém na entrada – e não havia sinal de outros escaladores. Encontramos Pedro e iniciamos a pequena trilha até o setor Três Pontões, fazendo uma primeira parada para observar as pinturas rupestres antes de seguir para nossa primeira via: Variante Teto Guerra e Paz (V – 15m – Mista). Belo teto em horizontal, um sonho de escalada da Cris, e que rende fotos incríveis.

Pinturas rupestres

Ao chegar à base, já bateu um frio na barriga – havia apenas um grampo no meio da via, dois pítons, e a parada nem se via, ficando um pouco acima do final da variante, já na outra face da pedra. Como estávamos com duas cordas e Pedro trouxe mais uma, conseguimos fazer um esquema eficiente: a primeira ao finalizar já ia rapelando, e a participante do meio levava as demais cordas.
Curiosamente, por ser Sexta-feira Santa, escalamos o teto ouvindo ao fundo as orações de um grupo reunido em um monte próximo.

Cris finalizando a Variante Guerra e Paz

O visual e a via são incríveis, mas a escalada foi puxada. Todas pararam no único grampo para descansar os braços, que já davam sinais de fadiga. E o crux ainda estava por vir: um lance de equilíbrio onde as mãos somem, exigindo uma transferência de pés um pouco delicada. Pedro, prevendo a dificuldade, ainda colocou um nut para garantir nossa segurança no crux. Depois, seguimos para a segunda via: que inicia e vai até a metade da Esquina da Alegria (IV– 30m – Fixa) até entrar na Spartacus (IVsup – 35m – Móvel), uma bonita fenda que leva ao cume, de onde curtimos uma vista 360° da Serra do Lenheiro.

Rafa na fenda da via Spartacus

Visual deslumbrante do cume

Cume pela via Spartacus com o guia Pedro

Para fechar o dia, pensamos em entrar na clássica Dança Macabra, mas acabamos optando por uma via conquistada e recomendada pelo nosso guia, a Barbatana (IVsup – 25m – Fixa). Uma via bem interessante, com movimentações variadas: começa fácil, passa por um platô, entra em uma pequena chaminé e, em seguida, exige uma movimentação em tesoura para acessar a aresta. Há um lance que é preciso fazer um “Galeio” (deve ser termo mineiro…) e o trecho final tem um lance em negativo, mas com uma ótima agarra de mão.

Carol na chaminé da via Barbatana

Finalizamos o dia empolgadas e já planejando voltar ao Lenheiro se o tempo ajudasse!

Domingo no setor Bloco dos Dois Dedos – por nossa conta!

Retornamos ao Lenheiro pela manhã, desta vez para o setor Bloco dos Dois Dedos, que fica à beira da estrada de quem sobe para o CEMONTA. Esse setor tem vias mais acessíveis, e era a melhor oportunidade para tentarmos guiar algo.
Na noite anterior, “estudamos” as vias e selecionamos três para entrar, levando em consideração que não fossem mistas nem móveis.
A primeira via escolhida foi Boca Murcha (IIIsup – Fixa – 10m). Encontramos a base sem dificuldades e todas entraram e guiaram sem maiores problemas, exceto pela altura, que dificultou a vida de alguém… rs

Cris guiando a via Boca Murcha

Animadas com a guiada e sem recorrer ao clipstick, seguimos para a próxima via da lista: Chapeleta (IV – 20m – Fixa). Chegamos à base e sentimos uns pingos, que logo passou. Ao analisar a via, avistamos uma barriga ao final que nos assustou um pouco – como faríamos esse lance? Mas decidimos entrar.
De fato, o trecho final exigia mais: um pé alto para superar a barriga, pedindo leitura atenta dos movimentos. Passado o lance, ao chegar na parada, nos deparamos com um visual incrível ao redor!

Rafa guiando a via Chapeleta

Mais animadas, seguimos com o plano para a última via da lista: Vacinados (IV – Fixa – 25m). Era um pouco mais distante das outras vias, então seguimos contando as chapeletas e conferindo a numeração no guia até chegarmos à base.
Assim que analisamos a via, percebemos que seria mais difícil: era vertical, exigindo equilíbrio e mobilidade. Diferente das anteriores, não era de agarras, mas de abaulados. Avistamos apenas as duas primeiras chapeletas; depois, a parede se inclinava num platô e seguia por um bloco de pedra vertical, onde conseguimos ver mais duas chapeletas e a parada. Detalhe: as chapeletas não eram rapeláveis!
Rafa e Carol tentaram entrar na via, mas sem sucesso. Resolvemos usar o clipstick para costurar as duas primeiras proteções antes de tentar novamente. Carol subiu até um pouco acima da segunda chapeleta, mas não conseguiu dominar o lance, que parecia delicado e jogava para fora. Desistimos, mas não bastava simplesmente descer – como recuperar a costura sem abandonar nada? Nessa hora, conhecimentos e ideias a postos, Rafa e Cris debatiam estratégias, já Carol pensava mais o quanto iria cair… (rs).
A solução encontrada foi usar uma fita longa e uma panic para remover a costura e descer até a segunda chapeleta, repetindo o procedimento. Para conseguir retirar as costuras, era preciso se equilibrar e dar um leve. No final, tudo deu certo, e já estava na hora de seguir para o almoço de Páscoa na casa da avó da Rafa.
No caminho, seguimos conversando sobre a via que não conseguimos fazer. Algo estava estranho – no guia, o grau era igual ao das outras que havíamos feito. Mas nossa experiência foi completamente diferente!

Carol na tentativa de guia a via Vacinados ou Esperança

Foi só ao relembrar e começar a escrever este relato que percebemos que provavelmente, não entramos na via Vacinados, mas sim em uma via chamada Esperança (V – Fixa – 12m). A descrição do guia fazia muito mais sentido: “Via com saída em abaulados, seguida por um rampado fácil e depois um trecho mais vertical até a parada dupla.” Ao contrário da descrição da Vacinados, que dizia ser “positiva e bem protegida, ideal para treinar equilíbrio e para quem está começando a guiar.”
Nossa avaliação? Nada positiva e definitivamente não para iniciantes!
Finalizamos esses dias de escaladas com uma sensação de realização, independência e progresso. Conseguimos escalar vias à vista, sem croqui, apenas com referências de grau, descrição e proteção, e o mais importante, em segurança!
Foi uma conquista pessoal para cada uma de nós. Temos praticamente o mesmo tempo de escalada e foi incrível perceber o quanto evoluímos.
PS: Se alguém for ao Lenheiro em breve, por favor, entra na via Vacinados! E nos conte se ela realmente é boa para quem está começando a guiar..rs

Rafa, Carol e Cris no final da via Boca Murcha

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