24/04/2022
Gabriel Konzen
16 de maio de 2022
Aqui continua o relato da viagem do feriado de Tiradentes para escalar duas das “50 vias clássicas no Brasil”. No sábado, dia seguinte a nossa escalada no Pico do Baiano, acordamos no Refúgio do Caverna, proseamos um tanto, arrumamos as coisas e partimos para o próximo destino: Serra da Cambota. No entanto, antes passamos em Catas Altas, ali ao lado, para tomar café e comprar alguns quitutes.
Chegando no camping
Nossa base para dormir e acessar a pedra foi o Canela de Ema Adventure Park. Fica a cerca de 1h de Catas Altas. O lugar parece aqueles acampamentos de férias, com lago, arvorismo, arco e flecha e outras atividades. Tudo bem cuidado e organizado. Ao chegarmos, nos deparamos com uma bandeira da Austrália. Por um momento, pensei que estivesse relacionado ao dono, mas depois soube que era decoração do casamento do último fim de semana.
É cobrada uma taxa de R$ 25 para entrar no local. Para se hospedar, há o camping por R$ 35 ou beliche em alojamento por R$ 100. Adicionalmente, são servidas refeições com agendamento. O camping fica ao lado do restaurante, enquanto o alojamento fica bem distante, próximo à entrada do parque.
Chegamos lá pelas 14h30 e Marquinhos e Diniz estavam querendo partir para a parede. No entanto, o plano era escalar no dia seguinte, pois a parede fica na sombra pela manhã. Assim, resolvemos aguardar, e meu corpo agradeceu o descanso após o intenso dia anterior no Baiano.
Escalada na via Clandestino
No dia seguinte, começamos a caminhada pouco depois das 6h. A trilha, bastante plana, em poucos momentos se abria para nos deixar avistar a parede laranja da Serra. De longe, observávamos um grande teto que precisaríamos transpor durante a escalada. Por mais intimidante que fosse, estávamos confiantes – a partir do croqui – que seria factível. Em cerca de 40min chegamos na base.
Quando o time ficou incompleto
Começamos os preparativos na base e logo percebo que Diniz não está se equipando. O que ele já havia anunciado durante alguns momentos da viagem – que me parecia em tom de brincadeira – era real: ele ficaria no chão esperando eu e Marquinhos escalar.
A Clandestino parece uma via esportiva de 175m. É atlética, com lances negativos, graduada em 6° VIIa, E2 D2. O Diniz tinha capacidade de escalar a via, mas não se motivou com a atividade.
Cada um de nós tem uma motivação para tirar os pés do chão e escalar. Aquele estilo de via não é o que move o Diniz e, portanto, sua escolha foi permanecer na base.
Enfim, compreendida a situação, terminamos de nos equipar e encaramos a parede.
1a enfiada
Eu guiei a primeira, com crux de VI, escalada em regletes que bombam um pouco o braço, mas não machucam. A rocha é quartzito. Nesse trecho a parede ainda é acinzentada.
2a enfiada
Também guiei essa, com crux de VIsup. No entanto, achei os lances mais fáceis que a primeira. O grau talvez seja pela sequência, que exige resistência. Além de regletes, há lances em lacas. Aqui a parede já tem uma coloração laranja. Para mim, é a enfiada mais linda.
3a enfiada
Marquinhos assumiu essa. Começa com a tal passagem do teto. Realmente, a via contorna o forte negativo e a passagem acaba sendo suave. É mais um lance de jeito do que de força, que talvez seja um VI grau. Depois segue por uma canaleta diagonal exótica e fácil. É possível sentar, subir rastejando, tudo com muitas agarras.
4a enfiada
A quarta é o crux da via, graduada em VIIa. Marquinhos guiou essa também. Da P3, há que se fazer uma horizontal para a esquerda e cruzar uma grande fenda que divide a parede. A partir dali, a via sobe e segue para a direita. Realmente, há uns lances mais duros, mas também há bons descansos e a proteção é próxima.
5a enfiada
A última foi eu que guiei. Aqui a orientação não é tão simples pois não há grampos. Subi alguns blocos, passei uns platôs e parei para chamar o Marquinhos. Segurança de ombro. Quando ele chegou, fui investigar para a direita e reparei que deveria ter subido entre dois blocos até chegar em outro platô. Puxei o Marcos novamente e dali recolhemos a corda e caminhamos para o cume.
Foi bom ter aguardado para fazer a via no domingo. Se tivéssemos escalado no sábado à tarde, certamente chegaríamos no final da via com pouca luz, o que dificultaria a orientação.
Cume e descida
Curtimos um pouco o cume, ouvimos a música de Manu Chao homônima à via que escalamos, depois iniciamos o rapel. Há boa sinalização com totens e fitas para a rota de descida. São dois rapeis de 30m e depois mais dois rapeis de 50m. Portanto, é necessário duas cordas. No segundo rapel tive um pouco de dificuldade para encontrar as chapas pois estão escuras, camufladas na parede. Estávamos na base por volta das 11h30.
Retornamos ao camping, Diniz já havia desmontado nosso acampamento, terminamos de guardar as coisas e partimos para casa. Chegamos no Rio próximo das 22h.
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Assim terminamos essa viagem, escalando duas clássicas de MG. Duas vias em quartzito, mas com características muito distintas. Particularmente, a Serra da Cambota me cativou mais, sendo candidata para outra visita. No entanto, como vimos, cada um tem suas preferências na escalada, “e está tudo bem”.