RESPONSÁVEL
DATA DA ATIVIDADE

14/05/2022

RELATO POR

Rodrigo Rodrigues da Silva

PUBLICADO EM

26 de julho de 2022

CATEGORIA

A proposta original da excursão seria subir a via Normal do Cabeça de Peixe, uma caminhada bem íngreme com lances chave de escalada em livre e artificial.

No entanto, quando eu, Marinah Raposo e Philippe Queiroz chegamos ao Paraíso das Plantas, constatamos que a parede estava molhada demais e, seguindo recomendação da FEMERJ e do PARNASO para não realizar a caminhada com o terreno molhado, pois potencializa a erosão, mudamos de plano. Rumamos então para a entrada do parque e ficamos à espera da abertura dos portões. Encontramos ali o Arthurzinho, do Abrigo Cumes, que ia fazer uma via no Dedo de Deus e também mudou de planos pelos mesmos motivos.

Pensamos então em duas possibilidades: Papudo e Pedra da Cruz descendo pela Neblina. Como eu já tinha participado de outras excursões do CEC por ali (subindo e descendo) e conhecia bem o caminho, decidimos pela segunda.

Subida

parar o carro na Pousada, onde começa a caminhada, seguindo por estrada pavimentada até a Barragem. Seguir o caminho para a Pedra do Sino por cerca de 5km. Após o segundo “sistema de curvas”, em que a trilha ziguezagueia para seguir as curvas de nível e minimizar a erosão (isso mesmo, não é para “cortar” o caminho nos cotovelos), já é possível ver a Pedra da Cruz, com sua imponente parede bem à nossa frente. Em um dado momento, antes de a trilha virar à direita e seguir sem curvas pronunciadas por um tempo, haverá uma saída à esquerda, bem marcada, porém menos que a trilha principal. Esse é o “atalho”, que, em oposição ao caminho normal do Sino, evita o ziguezague e sobe direto, margeando a parede da Pedra da Cruz. Em menos de 20 minutos estamos a poucos metros da parede, próximo à base da via Paredão Paraguaio. Mais 10 minutos de subida bem íngreme e encontramos a trilha que vem da Cota 2000 e segue até o cume. Nesse ponto, seguimos à esquerda. Mais 20 min de caminhada com bastante pedra e chega-se ao cume da Pedra da Cruz, com um visual incrível da parte baixa do Parnaso à esquerda e Mirante do Inferno, São João, São Pedro e Agulha do Diabo à direita.

Travessia

no cume da Pedra da Cruz (2014m), vestimos o equipamento (baudrier e capacete) e seguimos uma trilha mais discreta, passando por lajeados descendo em direção ao Nariz do Frade, que não é visível de início mas em algum momento descortina-se. Aqui é preciso atenção e seguir o caminho “no faro”, sempre tendendo à direita até achar um par de grampos onde começamos a descida de um costão mais íngreme e exposto. Como a pedra estava bem seca, em vez de rapelar, decidimos nos encordar e francesar em uma diagonal para, seguindo e costurando os grampos. Nota técnica: a Marinah, que estava no meio, usou uma Borboleta Alpina com dois mosquetões cruzados para se prender à corda. Atenção: não recomendo que esse trecho seja feito por pessoas inexperientes e sem o conhecimento de um curso básico de montanhismo ou orientação de guias qualificados, pois uma queda nesse costão, dependendo do ponto, pode levar a um abismo e ser fatal. Desencordamos e seguimos uma descida bem íngreme até encontrar um ponto bem molhado e onde as marcas de corda em uma árvore indicavam que bastante gente rapela esse ponto, o que fizemos. Mais uns 500m e chega-se à base do Nariz do Frade, uma pedra que merece um relato e excursão à parte. Ali, há uma placa em homenagem a um escalador que morreu no local há mais de meio século. Em seguida, entramos no que acho o ponto mais bonito da travessia da Neblina: o “bosque dos elfos”, como eu, devido à óbvia existência de elfos por ali, apelidei esse trecho de orquídeas coloridas, árvores tortuosas e barulhos soturnos. Vale o silêncio e andar com cuidado para apreciar a beleza e o ar mais frio que corre por ali. Saindo do bosque, cruzamos uma crista imponente, de onde se vê o Nariz do Frade ao fundo e os vales para cada lado, até chegarmos à base do Roi-Roi, onde realizamos um rapel curto até a sua base. Dica: só desequipar-se após a corda estar no chão, pois o risco de enroscar nos antigos grampos de aço é grande.

Descida

Na base do Roi-Roi começa o trecho mais cansativo da atividade, a meu ver, pois passamos a descer por uma mata ora densa, ora mais esparsa em que é fácil perder-se. Importante seguir o ouvido, pois ao pisar fora da trilha o barulho será diferente, e lembrar que a tendência é sempre ir não muito para baixo e à esquerda, rumo à trilha do Sino, em um ponto bem abaixo de onde a deixamos horas antes. Aqui o cansaço pegou, e seguimos mais lentamente até chegar de volta à trilha do Sino por volta das 16h, de onde descemos por mais 1h30 até a Barragem, já quase sem luz.

Itinerário

  • 06h30 Parada no Paraíso das Plantas e mudança de planos
  • 07h00 Entrada no PARNASO e assinatura do termo de risco
  • 07h40 Início da trilha na Barragem
  • 09h30 Parada para lanche e hidratação
  • 10h00 Entrada no atalho
  • 11h Chegada ao cume da Pedra da Cruz e almoço
  • 12h15 Saída do cume em direção ao Nariz do Frade
  • 12h40 Avistamos o Nariz do Frade
  • 13h15 Descida (encordada) do costão
  • 13h50 Base do Nariz do Frade, parada para fotos e planos
  • 14h Crista em direção ao Roi-Roi
  • 14h15 Rapel do Roi-Roi
  • 14h30 Começa o verdadeiro “perrengue” da descida
  • 17h30 Saída do parque
  • 18h Comendo pastel com caldo de cana no Paraíso das Plantas

Equipamento

Levamos água (1.5l a 2l), uma corda de 50m, baudriers, capacetes, algumas fitas e costuras, kit aba, kit de primeiros socorros, anorak, lanterna com pilhas reserva. Para comer, castanhas para a caminhada, sanduíche e goiabada de almoço. Alguns levaram sapatilha, bastão de escalada e fleece, pois venta bastante, mas são itens opcionais.

Avaliação

Mesmo tendo chovido alguns dias antes e a área do Escalavrado e Dedo de Deus ainda estar bem molhada, ali a trilha estava apenas úmida e a pedra seca. É uma excursão que repetimos com frequência no CEC, inclusive com uma nova subida programada para agosto, e com muito prazer, pois é muito bonita ao mesmo tempo em que exige preparo para levar mais peso que em uma caminhada normal e domínio básico de técnicas verticais. Acho que foi minha primeira excursão de caminhada técnica guiada na serra sem um guia mais experiente (com a devida supervisão da Diretoria Técnica e aviso sobre as mudanças de planos).

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